Nunca tive uma ideia muito romântica acerca da maternidade. Desde pequena, como tantas meninas, eu sonhava em ser mãe, mas intuía que a maternidade tinha sabor de sacrifício. O amor da minha mãe por mim, certamente, era uma inspiração: amor intenso e forte, na fragilidade da condição humana de uma mulher sem marido, e que, corajosamente, abriu mão da carreira profissional para se entregar à experiência da maternidade, amando a sua filha com todas as forças da sua existência. Ela conta que o sonho da vida dela era esse: ter alguém para amar sem medidas. Ao cuidar de mim e me educar, ela também crescia e se humanizava, até se tornar uma gigante na arte do sacrifício da vida cotidiana.

No meio desse caminho, ela encontrou um grande amor, aliás, encontrou o próprio Amor, e se descobriu amada incondicionalmente por Ele. Isso mudou tudo. Deu um novo sentido à sua história e à sua maternidade. A fez entender que o amor materno é um grande DOM que brota da fonte do Amor, aquele Amor que é fonte de todo amor verdadeiro. Ela entendeu que o amor nos é possível porque Ele nos amou primeiro. E passou a me educar nessa experiência de fé e confiança no Amor, que nos amou até às últimas consequências. Certa vez, ela me confessou que, embora me amasse tanto, o amor dela era limitado e imperfeito – como todo amor humano – e que só Deus me amava em plenitude. Eu, que era ainda criança, fiquei um tanto chocada com esse anúncio. Mas foi, sem dúvida, um anúncio libertador, uma boa nova que ainda hoje me ajuda a ordenar a vida.

Minha mãe não é perfeita, mas é uma mulher admirável. Em meio a tantos limites, ela me ensinou – e ensina todos os dias – a ofertar a vida por amor, na busca constante por fazer a vontade de Deus. E eu, que há 20 anos vivi uma experiência transformadora de encontro pessoal com aquele Amor maior, que desde pequena ouvia falar, mas somente aos 15 anos conheci, escolhi fazer da minha vida uma oferta de amor e um sacrifício de louvor Àquele “que me amou e se entregou por mim” (Gl 2,20). Para viver isso, o matrimônio é meu caminho, a maternidade é minha via. Essa é a minha vocação, pela qual posso amar e servir a Deus e à humanidade com todas as minhas forças, com minha alma, de todo coração… E também com o meu corpo, com minhas entranhas maternas, na minha carne, posso “completar aquilo que falta à paixão de Cristo” (Cl 1,24), e isso, 24 horas por dia! Com a certeza de que “se nEle sofremos, também nEle seremos glorificados” (Rm 8,17b).

Bendita seja a maternidade! Mil vezes seja bendita! Por que é através dela que eu participo intimamente desse grande mistério de Amor, na oferta amorosa do meu cansaço, do meu tempo, das minhas renúncias, dos pequenos e grandes desafios da vida em família. E assim, encontro um grande sentido para todos os sofrimentos que experimento no cotidiano da existência: vivo a minha paixão unida à Paixão de Cristo, que salva o mundo. Pelo dom da maternidade, mergulho no mistério da Redenção, unida à kenosis do Amor que se fez homem. Na minha “maternidade real”, experimento a cada dia uma verdadeira humanização, que me aproxima e conforma ao divino, o “divino real”, aquele que não se apegou à Sua condição, mas livremente se entregou a nós, se encarnou, se deixou crucificar por amor, morreu para gerar vida, se consumiu, se aniquilou, se esvaziou de si mesmo, se faz nosso alimento. E por Sua oferta livre, recebemos a Vida e a Salvação. Por Sua entrega, a morte foi vencida e a vida transfigurada.

Ao dizer sim à minha vocação, livremente escolhi abrir mão da “liberdade” que eu tinha quando era jovem, para me tornar muito mais livre… cada dia mais livre! Porque a maternidade é aquela bendita porta estreita pela qual saio do reino do egoísmo e entro no reino do Amor. Por sinal, esse era o grande ideal da minha juventude: me consumir e dar a vida por amor! No entanto, era muito mais teoria do que vida. Agora é vida real (e realizada!). E que grande alegria: encontro no padecer, o paraíso. Sofro sim, mas por amor! Amor real, aquele que tem a carne crucificada e uma coroa feita de espinhos.

À exemplo de Maria, mãe de Jesus e nossa, quero dizer a cada dia o meu fiat ao Autor da Vida. Que ela nos ensine a fazer, da vida, uma fecunda oblação, amor em ato. Para mim, isso é que é liberdade real, felicidade real… O resto, creio que seja ilusão.