Em janeiro deste ano, comemoramos 10 anos de casados. Com alegria e gratidão, reunimos amigos e familiares queridos, em uma singela Eucaristia (Ação de Graças!), naquela mesma igreja paulistana, onde celebramos nosso compromisso de amor total e definitivo, em 12 de janeiro de 2008. Nossos 5 filhos ficaram muito contentes por conhecerem aquele lugar tão especial para nós dois, e por participarem dessa festa de aniversário da fundação da nossa família. Como dizia o nosso convite de casamento: “nos escolhemos… porque o Amor nos escolheu!” E seguimos experimentando a força desse Sacramento, renovando a nossa decisão e nos escolhendo a cada novo dia, confiando no Amor de Deus e amparados por Ele.

Por graça de Deus, nosso matrimônio experimenta uma grande fecundidade. Não somente biológica, mas também espiritual e afetiva, sendo um acontecimento importante também para a vida de quem acompanha a nossa história. Há 10 anos, estava ali um noivo ex-agnóstico que, pela primeira vez, fazia sua comunhão eucarística (graças à uma profunda experiência do Amor misericordioso de Deus, vivenciada 4 meses antes). Estava ali uma noiva que, por alguns anos, havia pensado em ser freira (por desejo de ofertar a vida, mas também por medo do casamento, devido a uma história familiar complicada), que agora dizia SIM à sua vocação, com coragem e confiança na Misericórdia de Deus. Estávamos os dois, cercados por centenas de amigos e familiares, experimentando gotas de Céu na terra. Foi tudo infinitamente mais bonito do que poderíamos sonhar… graças ao Amor providente de Deus, que se manifesta sempre, através de cada pessoa que Lhe abre espaço.

Lembro-me (como se fosse ontem) daquele dia em que conversamos longamente sobre nosso projeto de vida e sobre nosso desejo de nos amar para sempre, assumindo o compromisso público do amor e construindo uma família. Fomos inundados de certeza e de alegria. Escolhemos a data, que seria no meio das férias, logo depois da formatura do Estevão. Faltavam 7 meses. Fizemos algumas contas no papel, listando aquilo que considerávamos importante para que o casamento acontecesse, a começar pelos gastos “irrenunciáveis”. Tínhamos que fazer caber tudo em R$ 2.000,00 (isso mesmo: dois mil reais!), que era uma estimativa do que conseguiríamos juntar até a data do casamento. Eu tinha ideia dos gastos, por ter acompanhado de perto alguns casais nessa preparação. No entanto, escolhemos um caminho alternativo, que estivesse dentro da nossa realidade. Optamos radicalmente pela simplicidade e nossa lista ficou mais ou menos assim:

– Cartório: R$ 260,00 (inegociável)
– Alianças: R$ 200,00 (as mais simples possível)
– Igreja: R$ 300,00 (era o valor padrão… poderíamos tentar um desconto)
– Vestido da noiva: R$ 50,00 (sim, eu estimei gastar “cinquenta reais” no meu vestido… meu pensamento foi: ou eu arrumo um vestido emprestado e mando lavar, ou compro um indiano branco na feira hippie!)
– Sapato ou sandália: R$ 50,00 (compraria um/a que desse para usar depois, em outras ocasiões)
– Gravata do noivo: R$ 30,00 (ele já tinha um terno e sapato em bom estado)
– Decoração + buquê: R$ 100,00 (compraríamos as flores na CEAGESP e faríamos os arranjos em casa)
– Convites: R$ 30,00 (faríamos nós mesmos e enviaríamos a maioria por e-mail)
– Bolo e guaraná: R$ 200,00 ou R$ 300,00 (a depender da quantidade de pessoas)
– Música: — (os amigos nos dariam esse presente)
– Cabelo e maquiagem: — (as amigas me ajudariam nessa arrumação)
– Fotografias: — (pediríamos a alguns queridos entendidos que nos fizessem esse favor)
– Lua de mel: R$ 500,00 (nosso principal investimento! A ideia era passar alguns dias em uma pousadinha simples, entre São Paulo e o Rio)

Quando terminamos nossa lista e vimos que seria possível casar, nosso coração experimentou uma grande paz, que confirmava a nossa decisão. Comunicamos, então, a boa notícia aos nossos pais, que foram surpreendidos pela nossa “coragem”. Íamos completar dois anos de namoro. Nesse momento da vida, eu trabalhava apenas uma manhã por semana, e ganhava R$ 500,00 por mês, dos quais gastava a metade para encontrar o Estevão (eu já estava morando no Rio há quase um ano, e ele ainda terminando o curso de música em São Paulo). O restante, eu guardava na poupança, que já somava quase R$ 900,00 (!!). Ele não tinha como economizar nada nesse tempo, tudo o que ganhava era consumido na sua sobrevivência em SP. Por causa disso, alguns nos chamaram de “loucos”, como se não tivéssemos noção da “realidade” e quiseram nos convencer de que devíamos adiar um pouco essa oficialização, para podermos nos “organizar” melhor. Mas, realmente, não era a questão financeira que nos importava. O nosso coração estava voltado para o essencial: a certeza do amor entre nós e o desejo/decisão de nos amar para sempre, compartilhando toda a nossa existência.

Tínhamos convicção de que era a hora certa de dar esse passo. E não nos trazia paz ou alegria pensar em adiá-lo para juntarmos e gastarmos mais dinheiro com o casamento. Sabíamos que não poderíamos bancar uma festa para todas as pessoas queridas por nós. Tampouco achávamos que deveríamos fazer uma lista super restrita de convidados, deixando uma multidão de pessoas queridas de fora. Por isso, pensamos em celebrar nossa união na grande festa que é a Missa, e depois partilharmos um bolinho no salão da igreja. Mas isso não deu certo… os amigos não aceitaram! Queriam mais tempo para festejar e confraternizar (e é claro que nós também gostaríamos). Surgiu a ideia de procurarmos um restaurante naquelas redondezas, que acomodasse umas 300 pessoas e que tivesse um rodízio de pizzas bom e barato, para que cada um pagasse o seu próprio consumo. E assim foi feito! Alguns amigos-irmãos se empenharam nessa busca e encontraram um bom lugar, negociaram um bom preço e reservaram para nós. Foram 7 horas de festa! Com direito à música ao vivo e muita alegria!

Ganhamos de amigos o bolo, as flores, a música, a fotografia, a filmagem, a decoração, um chalé emprestado em Campos do Jordão para a nossa lua de mel. Ganhei penteado, maquiagem e unha em salão profissional, e até um banho especial (com direito a pétalas de rosas!) na banheira de hidromassagem da casa nova da querida Marina, que me preparou um delicioso “dia de noiva” (eu nunca pensei que teria algo assim). O buquê e os arranjos foram criados pelo querido Kemel (amigo que nos apresentou), com rosas vermelhas, brancas e amarelas (cores que escolhi inspirada em N. S. da Rosa Mística). As meninas amigas-irmãs amadas, com quem eu havia morado em SP, decoraram a igreja (alguns minutos antes da celebração). Nós, que não alugamos o tapete vermelho, fomos surpreendidos com um lindo caminho de rosas vermelhas, que enfeitava todo o corredor central. Ficamos emocionados com a beleza e profundidade dos comentários (escritos e lidos por um casal muito querido) durante a celebração litúrgica. Realmente, foi tudo muito bonito e especial, com sabor de vida compartilhada.

Quanto ao vestido, foi mais uma manifestação da Providência Divina: quando comentei com minha prima Maíra que estava de casamento marcado para dali a 6 meses, ela me perguntou se já estava tudo organizado e se eu já tinha o vestido, ao que respondi, descontraidamente, que não tinha nada ainda, somente o noivo (risos!), e que achava que iria comprar um vestido branco indiano. Com cara de espanto, ela foi dizendo: “como assim?? está falando sério??”, quando se lembrou que ela mesma tinha um vestido de noiva lindo, guardado há uns 15 anos, ganhado de presente de uma amiga do seu pai, e que devia estar na casa de sua avó paterna. Fomos até lá e o encontramos, numa caixa amarelada pelo tempo. Quando ela tirou aquela “relíquia” da caixa e me mostrou, fiquei muito emocionada. Percebi que, se eu fosse desenhar um vestido e escolher seus detalhes, seria exatamente daquele jeito!! Foi incrível. E ele me serviu quase perfeitamente, a não ser por um centímetro nas costas, que foi resolvido por uma tia querida. A partir dali, começou a saga para encontrar uma lavanderia honesta (fui em 5, e chegaram a me cobrar R$ 250,00 pela lavagem do vestido!). Finalmente, descobri uma lavanderia pequena, onde fui atendida por uma moça muito simples e atenciosa. Ela analisou bem o vestido, as manchas, as pedras… Perguntou se eu tinha pressa, pois talvez demorasse um pouco. Respondi que ainda faltavam 6 meses para o casamento e perguntei quanto ela me cobraria pelo serviço. Adivinhe qual foi a resposta dela? R$ 50,00!! Confesso que isso foi surpreendente até para mim, que já estava achando que tinha exagerado na estimativa inicial. Mas, sem dúvida, esse detalhe foi mais um sinal precioso – e preciso – do carinho de Deus, manifestado em nossa história.

E quando fomos reservar a igreja (minha querida paróquia Nossa Senhora dos Pobres), o padre nos deu 50% de desconto, porque eu havia sido catequista lá durante algum tempo. No final das contas, gastamos bem menos do que prevíamos. E ganhamos infinitamente mais! Aliás, não imaginávamos a quantidade de pessoas que se envolveriam na realização daquele dia tão importante da nossa vida. Foi comovente. Maravilhoso, também, foi receber o abraço de tantos que vieram de longe e nos emocionaram com sua presença. E como foi forte o momento da Comunhão Eucarística, em que o Estevão manifestava publicamente a sua experiência de conversão. É inesquecível o momento de Ação de Graças, onde toda a igreja cantava em uníssono a Oração de São Francisco (que segue sendo um hino para nossa vida). Foram tantos e tão belos detalhes que marcaram aquele dia! E eles ainda tecem nossas memórias e inspiram nosso cotidiano familiar. Infelizmente, não me é possível narrar tudo aqui (quem sabe um dia gravamos um vídeo para contar mais =), mas quero, neste breve e resumido relato, aproveitar para agradecer a tantos amigos e amigas que, por ocasião daquela celebração, nos constrangeram com seu amor em ato, sendo sinais e expressão do Amor que nos uniu. De fato, “quem encontrou um amigo, encontrou um tesouro” (Eclo 6,14).

Há bastante tempo, eu desejava escrever sobre o nosso casamento. Essa semana tive uma motivação a mais… Em nosso “casamento real”, cada detalhe teve o perfume da generosa Providência Divina e da amizade fraterna, que foi construída no Amor. Em nossa vida real, continuamos experimentando a mesma generosidade de Deus e das pessoas à nossa volta. Em nosso casamento real, a verdadeira beleza é a soberania do Amor. Em nosso cotidiano real, buscamos primeiro o Reino de Deus e a Sua Justiça. Em nossa família real, toda a vida é liturgia. Afinal, por nosso Batismo, participamos do sacerdócio, do profetismo e da realeza de Cristo.